Prisão de Jair Bolsonaro na manhã deste sábado, “22” mera coincidência?

A prisão preventiva de Jair Bolsonaro na manhã deste sábado representa mais um capítulo de instabilidade política no Brasil, mas também escancara um problema recorrente: a politização da Justiça e a judicialização da política. Independentemente de posição ideológica, um ex-presidente ser preso sob argumento de “garantia da ordem pública” e não pela execução de uma sentença condenatória reacende debates sobre seletividade penal, protagonismo do Judiciário e fragilidade das instituições democráticas.

A decisão não acontece no vácuo. Bolsonaro já havia sido condenado pelo STF por tentativa de golpe e estava em prisão domiciliar, monitorado eletronicamente. A nova ordem não trata do cumprimento da pena, mas de uma medida cautelar, o que coloca mais peso nas interpretações políticas do ato do que em sua finalidade jurídica direta. Parte da sociedade vê a prisão como resposta firme ao autoritarismo; outra interpreta como perseguição e uso do aparato estatal para silenciar um adversário político. A polarização continua sendo o combustível.

A narrativa institucional também merece atenção. Quando ações judiciais e decisões do STF passam a ter impacto direto no tabuleiro político, a Justiça deixa de ser apenas árbitro e passa a atuar, intencionalmente ou não, como ator estratégico do jogo de poder. Isso não significa inocentar quem cometeu irregularidades, mas questionar se o país está conseguindo punir com transparência, previsibilidade e respeito às garantias legais ou se está apenas trocando o polo ideológico do “inimigo público”.

O episódio também revela o vácuo de liderança política madura no Brasil. Em vez de fortalecer instituições por meio de reformas e consensos, o debate público se resume a torcidas organizadas, que tratam prisões como gols e decisões judiciais como vingança ou salvação nacional. Enquanto isso, o país segue preso no ciclo onde crises judiciais substituem debates sobre economia, serviços públicos, desenvolvimento e futuro.

A prisão de Bolsonaro é um fato histórico e relevante mas sua importância real será medida não pelo espetáculo do momento, e sim por como o Brasil consegue (ou fracassa) em transformar conflitos políticos em processos democráticos previsíveis. Se a Justiça for usada como ferramenta de disputa, troca-se o autoritário da vez, mas nunca o autoritarismo.

No fim, a questão central não é quem foi preso, mas por qual país essa prisão acontece.

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