Decisão do STF sobre foro privilegiado reconfigura cenário eleitoral e aumenta pressão sobre aliados de Bolsonaro

Reprodução STF

A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de ampliar o alcance do foro privilegiado está gerando fortes repercussões no xadrez político de olho em 2026. Em 11 de março, por 7 votos a 4, a Corte decidiu que autoridades continuam com foro no STF mesmo após deixarem o cargo, desde que ainda tenham influência política. A medida, que parecia técnica, rapidamente ganhou contornos políticos — e um alvo imediato: Gilberto Kassab, presidente do PSD.

Dias após a decisão, o ministro Alexandre de Moraes determinou o retorno ao STF de um inquérito contra Kassab, anteriormente arquivado pela Justiça Eleitoral. Embora caiba à Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir se retoma ou não o processo, a mensagem nos bastidores foi clara: o Judiciário está de olho em quem tenta se alinhar com Bolsonaro.

A reativação do inquérito contra Kassab ocorre no momento em que o PSD ensaia uma aliança com o PL de Jair Bolsonaro, articulando uma possível chapa em torno do governador Ratinho Júnior (PR). Para muitos políticos, o gesto de Moraes foi interpretado como um freio jurídico disfarçado de movimentação processual.

O próprio deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR), vice-líder da legenda, não poupou críticas.

É uma perseguição contra a direita. Não é coincidência que isso aconteça justamente quando o partido se aproxima da oposição.”

A base bolsonarista vê o movimento como parte de um padrão: usar o Judiciário para isolar politicamente qualquer articulação que ameace o projeto do Planalto — especialmente num momento em que a oposição tenta se reagrupar com nomes competitivos para 2026.

Além de Kassab, outros nomes importantes da direita também enfrentam dificuldades jurídicas.
– Ciro Nogueira (PP-PI) foi denunciado por obstrução de justiça em investigações sobre corrupção na Petrobras, embora o STF tenha rejeitado a acusação (a PGR ainda pode recorrer).
– Ronaldo Caiado (União-GO) foi condenado por abuso de poder político e aguarda julgamento no TSE, o que pode afetar diretamente sua elegibilidade

Para críticos, trata-se de uma judicialização seletiva do debate político, onde decisões formais se convertem em pressões indiretas para moldar o jogo antes mesmo que a eleição comece.

Para aliados do Planalto, no entanto, o STF apenas cumpre seu papel de vigilância sobre figuras que tentam escapar da Justiça após o mandato — e, nas entrelinhas, rechaçam alianças que envolvam anistia aos atos de 8 de janeiro.

Com o processo ressuscitado, Gilberto Kassab se torna uma peça-chave sob pressão: se mantiver a aproximação com Bolsonaro, pode enfrentar desgaste jurídico e político; se recuar, enfraquece a articulação de uma candidatura competitiva da oposição.

Enquanto isso, o recado está dado: em 2026, a corrida eleitoral começa nos tribunais — e não nas urnas. E os candidatos sabem: ter foro pode não garantir absolvição, mas perder o foro não significa liberdade.

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