A condenação do humorista Léo Lins a mais de 8 anos de prisão por piadas de teor discriminatório reacendeu o debate sobre os limites da arte, a atuação do Judiciário e a liberdade de expressão. No entanto, o caso ganha contornos ainda mais complexos quando comparado à trajetória de artistas como MC Poze do Rodo, conhecido por letras que exaltam o crime, o consumo de drogas e a hipersexualização.
Enquanto Léo Lins é condenado à prisão por declarações feitas num show de stand-up com tom satírico, MC Poze — como outros artistas do gênero — faz sucesso entre milhões de jovens com músicas que, sem qualquer tom de ironia, glorificam o tráfico, o armamento e o desprezo por normas sociais. Aqui cabe uma reflexão direta: qual dessas manifestações artísticas oferece maior risco à formação social, especialmente de públicos vulneráveis?
Não se trata de justificar o conteúdo de Léo Lins ou negar os avanços no combate ao discurso de ódio. Mas é impossível ignorar a disparidade de tratamento que parece existir entre diferentes formas de arte. O humor é penalizado com o peso da lei, enquanto a apologia clara ao crime circula livremente nas plataformas, sob aplausos e contratos milionários.
A incoerência salta aos olhos. A crítica social através do humor, mesmo que mal colocada, recebe punição severa. Já o estímulo direto à cultura da violência, da ostentação irresponsável e da sexualização precoce encontra abrigo na defesa da “liberdade cultural” e no argumento de que “é só música”.
A arte tem poder. Ela educa, forma opinião, molda comportamentos. E justamente por isso, toda manifestação artística precisa ser analisada com responsabilidade — sem hipocrisia seletiva. Não é possível exigir limite de um comediante enquanto se naturaliza a influência de letras que promovem o colapso social de dentro para fora.
Não se trata de censurar nenhum artista, mas de questionar por que o peso da repressão recai apenas sobre uns — e não sobre todos. A justiça deve ser proporcional, e a sociedade, coerente. Se a régua da punição for aplicada com honestidade, é necessário revisitar o que realmente ameaça nossos valores: a piada ou a exaltação do crime?