Das 28 vítimas de feminicídio em MT em 2025, apenas duas tinham medida protetiva

Casos de feminicídios registrados em Mato Grosso ano de 2025, entre os meses de janeiro a junho — Foto: Reprodução

Dados divulgados pelo Observatório Caliandra, ligado ao Ministério Público de Mato Grosso, revelam que das 28 vítimas de feminicídio registradas no primeiro semestre de 2025 no estado, apenas quatro haviam feito boletim de ocorrência contra o agressor e somente duas contavam com medidas protetivas em vigor.

O levantamento também aponta um aumento alarmante de 47% nos casos em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registradas 19 mortes. A faixa etária com maior número de vítimas é a de 25 a 29 anos, com seis ocorrências, seguida pelas faixas de 40 a 44 anos (cinco casos) e 50 a 54 anos (quatro casos).

Mais de 70% dos feminicídios ocorreram dentro das residências das vítimas. O período noturno foi o mais recorrente para a ocorrência dos crimes. Em 75% dos casos, a motivação esteve ligada ao machismo — ciúmes, sentimento de posse, tentativas de separação e discriminação de gênero.

Os agressores, na maioria das vezes, tinham vínculos afetivos com as vítimas: 14 eram companheiros e seis eram ex-companheiros ou namorados.

Para a promotora de Justiça Claire Vogel Dutra, coordenadora do Núcleo das Promotorias de Enfrentamento da Violência Doméstica da Capital, os dados funcionam como um importante instrumento de alerta para toda a sociedade.

“Precisamos enxergar essas estatísticas como um alerta coletivo, que exige ações firmes do Estado e o envolvimento da sociedade como um todo”, reforça a promotora.

Já a advogada Karime Dogan, especializada na defesa dos direitos da mulher, destaca a importância do registro das ocorrências para garantir não apenas proteção às vítimas, mas também a produção de dados que sustentem políticas públicas eficazes.

“Se não têm números oficiais, considera-se que não está ocorrendo violência. Políticas públicas só acontecem com apresentação de dados. É importante saber, por exemplo, se essas vítimas conheciam a Lei Maria da Penha, sua escolaridade, raça e outros fatores relevantes”, avalia.

Karime também aponta que muitas mulheres ainda subestimam o risco que correm.

“De forma geral, falta conscientização. Muitas mulheres não acreditam que podem ser vítimas de feminicídio — até que é tarde demais.”

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