O Banco Master, atualmente em negociação para vender parte de suas operações ao BRB (Banco de Brasília), contratou o escritório de advocacia Barci de Moraes — onde atuam Viviane Barci, esposa do ministro Alexandre de Moraes, e dois filhos do casal — para representá-lo judicialmente. O vínculo comercial levanta questionamentos sobre possíveis conflitos éticos, considerando que o banco possui interesses diretos em processos que podem chegar ou já tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo fontes ligadas ao Master, Viviane representa a instituição “em algumas poucas ações”, sem que sejam revelados os casos específicos nem o valor dos honorários pagos. O próprio banco se recusou a fornecer detalhes, assim como o escritório. Uma busca no sistema processual do STF não identificou, até o momento, processos com a participação de Viviane como advogada do Master.
O alerta, no entanto, vem da dimensão financeira da operação. O balanço do banco, divulgado em 1º de abril, aponta que o Master detém R$ 8,7 bilhões em precatórios — dívidas públicas reconhecidas pela Justiça. Desses, R$ 8,5 bilhões são classificados como “direitos creditórios”, ou seja, valores que já foram reconhecidos judicialmente, mas ainda não foram convertidos em títulos para pagamento. É comum que disputas sobre precatórios, especialmente envolvendo regras de pagamento e correção monetária, cheguem ao STF.
Em Brasília e em Londres
Atualmente, o banco tem pelo menos uma ação contra a União em curso no Supremo, relacionada à cobrança da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), sob relatoria do ministro Gilmar Mendes. Em janeiro, o caso foi arquivado por decisão de Gilmar, mas o Master recorreu. Viviane Barci de Moraes não aparece nos autos dessa ação.
A relação do banco com o mundo jurídico vai além dos tribunais. Nos últimos anos, o Master passou a patrocinar eventos jurídicos de alto nível — e alto custo. Um deles, o “Fórum Jurídico Brasil de Ideias”, aconteceu em abril de 2023 no hotel The Peninsula, em Londres, onde a diária parte de R$ 6 mil. Entre os convidados estavam ministros do STF, incluindo Moraes, Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Procurado, Moraes não respondeu se teve despesas pagas pelo banco ou se vê conflito ético na participação em eventos patrocinados por instituições que mantêm relações com sua família.
Consultorias de peso
O banco também tem histórico de aproximação com figuras de peso no setor público. Em 2023, logo após deixar o STF, Ricardo Lewandowski passou a integrar o conselho estratégico do Master, com salário estimado acima de R$ 100 mil mensais. Ele deixou o cargo ao assumir o Ministério da Justiça no governo Lula, em fevereiro deste ano. O Master também contratou como consultor o ex-ministro Guido Mantega, que, segundo apuração da coluna, teria articulado um encontro entre o dono do banco, Daniel Vorcaro, e o presidente Lula no Palácio do Planalto.
Perfil do escritório
Instalado num edifício comercial no Itaim Bibi, zona nobre de São Paulo, o escritório Barci de Moraes atua nas áreas de direito empresarial, recuperação judicial, contratos e relações com o poder público. Além do trabalho em nome do Master, o escritório defendeu a própria família Moraes após o episódio em que o ministro foi hostilizado por brasileiros no aeroporto de Roma, em 2023.
Levantamento da coluna identificou a atuação de Viviane Barci em pelo menos 30 processos públicos no STF, embora nenhum ligado diretamente ao Banco Master. Entre seus clientes estão políticos, entidades militares e empresários com histórico de litígios relevantes.
Mesmo sem provas de atuação direta nos processos do banco junto ao STF, a contratação da família de um ministro da Corte por uma instituição com interesse financeiro relevante em decisões judiciais alimenta dúvidas sobre transparência e ética pública. No Brasil, esse tipo de proximidade costuma provocar mais silêncio institucional do que respostas.