Correios culpam “taxa das blusinhas” por rombo bilionário, mas mantêm gastos milionários em cultura e publicidade

Agência Brasil

Com um prejuízo recorde de R$ 2,6 bilhões em 2024, os Correios agora atribuem parte do rombo à “taxa das blusinhas”, tributo criado pelo governo Lula para taxar encomendas internacionais — sobretudo de sites de varejo asiáticos. Segundo a estatal, a medida teria favorecido o varejo nacional, mas reduzido drasticamente o volume de importações entregues pela empresa, minando uma das principais fontes de receita da estatal.

No entanto, enquanto impõe suspensão de férias, cortes salariais e retorno ao trabalho presencial para os funcionários, a direção dos Correios também enfrentou uma enxurrada de críticas por gastos generosos com patrocínios culturais e contratos milionários de publicidade.

Um dos casos mais polêmicos foi o patrocínio de R$ 4 milhões à turnê do cantor Gilberto Gil, aprovado mesmo diante da crise financeira. Funcionários da empresa classificaram o investimento como “surreal”, diante de atrasos em repasses do FGTS, problemas com convênios médicos e cortes internos para economizar R$ 1,5 milhão em 2025.

Além disso, o Tribunal de Contas da União (TCU) abriu uma investigação sobre a licitação de quase R$ 400 milhões em publicidade, após representação do deputado estadual Leo Siqueira (Novo-SP) questionando os critérios da contratação.

Entre as medidas de contenção anunciadas nesta segunda-feira (12), estão:

  • Suspensão temporária de férias (com retorno apenas em 2026);
  • Redução de jornada com corte proporcional de salários;
  • Revisão da estrutura da sede e corte de 20% no orçamento de funções;
  • Volta obrigatória ao trabalho presencial a partir de 23 de junho;
  • Reformulação dos planos de saúde, com promessa de economia de 30%.

A atual gestão tenta responsabilizar o governo anterior pelo resultado negativo. No entanto, sob Jair Bolsonaro, os Correios registraram lucro recorde de quase R$ 4 bilhões e chegaram a ser incluídos no programa de privatizações. Lula, ao reassumir o governo, retirou a estatal da lista, encerrando na prática a agenda de desestatização do setor.

Em números atualizados pela inflação, o rombo de 2024 supera o prejuízo de R$ 2,3 bilhões registrado em 2016, e se tornou o maior da história recente da empresa.

A pergunta que ecoa nos corredores da estatal e entre seus trabalhadores é: por que cortar plano de saúde e suspender férias, mas manter patrocínios e publicidade milionária? O plano de “readequação fiscal” parece recair apenas sobre quem entrega as cartas.

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