Ensaio Fotográfico de Alexandre de Moraes Escancara Politização do Judiciário no Brasil

Foto: Fabio Setti

Pouco antes da histórica condenação de Jair Bolsonaro pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ministro Alexandre de Moraes, então presidente da Corte, protagonizou um ensaio fotográfico polêmico que vem gerando intensos debates sobre a imparcialidade e o papel do Judiciário brasileiro. Em imagens com fundo vermelho, iluminação cinematográfica e uma postura de autoridade calculada, Moraes foi clicado por Fábio Setti, fotógrafo que descreveu o ministro como uma “figura de tamanho imensurável na política brasileira”.

Sim, na política — não como juiz, não como guardião da Constituição, mas como personagem político. A escolha das palavras, somada ao momento do clique, não poderia ser mais simbólica da atual crise institucional no Brasil.

Enquanto um ex-presidente da República aguardava julgamento por abuso de poder político, o magistrado responsável por presidir esse julgamento se envolvia em uma sessão estética que, no mínimo, compromete a aparência de imparcialidade exigida de um juiz da Suprema Corte.

O fotógrafo, talvez inadvertidamente, explicitou o que já se tornara perceptível a muitos: o STF (Supremo Tribunal Federal) deixou de ser apenas um tribunal técnico e passou a ocupar o palco como um dos principais atores políticos do país. Seus ministros transitam com desenvoltura pelos bastidores e holofotes do poder, muitas vezes de forma mais ativa do que lideranças partidárias.

O ensaio de Alexandre de Moraes foi feito para a revista The New Yorker, que prepara uma reportagem com o título “Strongmen” — ou “Homens Fortes”. Se a intenção era retratar a figura autoritária brasileira contemporânea, o resultado parece ter acertado em cheio. Um juiz que, em plena semana de um julgamento decisivo para a democracia, posa como figura de poder político envia uma mensagem clara: imagem, força e narrativa acima da discrição institucional.

O fenômeno da celebrização dos ministros do STF, que discursam fora dos autos e ocupam palanques midiáticos, evidencia um processo contínuo de desinstitucionalização. Em democracias consolidadas, o simples fato de um magistrado se envolver em uma ação promocional às vésperas de um julgamento crucial geraria, no mínimo, uma crise de reputação. No Brasil, vira “trend”.

A politização do Judiciário, antes apontada com cautela, agora é assumida com naturalidade pelos próprios protagonistas. Nem tentam mais esconder — nem da opinião pública, nem dos flashes.

O que resta é um cenário em que a imparcialidade do Judiciário brasileiro se torna um ideal cada vez mais distante. O culto à imagem de seus ministros e a superexposição pública contribuem para o enfraquecimento da confiança nas instituições democráticas. E o país, mais uma vez, assiste ao espetáculo jurídico-midiático como se fosse normal.

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