Facções criminosas passaram a controlar de forma direta o garimpo ilegal na Terra Indígena Sararé, localizada em Mato Grosso. A constatação está no relatório Cartografias da Violência na Amazônia, que aponta a atuação crescente do Comando Vermelho (CV) na operação da extração de ouro dentro da área protegida.
De acordo com o estudo, a facção deixou de ser apenas fornecedora de armas, proteção ou mão de obra e passou a administrar toda a cadeia do garimpo. O grupo controla máquinas, combustíveis, trabalhadores, abastecimento, insumos e até regras internas de convivência, impondo punições e multas dentro do território indígena.
A mineração ilegal evoluiu para uma estrutura de grande porte, com uso de escavadeiras hidráulicas, balsas, acampamentos e logística própria. A região é de difícil acesso e o funcionamento do esquema exige apoio financeiro e operacional robusto, reforçando o papel das facções como verdadeiras gestoras do território.
Entre 2023 e 2024, a área devastada pelo garimpo ilegal na TI Sararé cresceu 93%, enquanto outras terras indígenas da Amazônia registraram redução da atividade. O avanço reflete a consolidação das organizações criminosas na região e o aumento da pressão ambiental sobre o território indígena.
Entre agosto e outubro deste ano, operações de repressão destruíram ou apreenderam maquinários, estruturas e insumos avaliados em R$ 237,5 milhões. Mesmo com o impacto das ações, o relatório aponta que as facções seguem com alto poder de recomposição financeira e logística.
A presença de um grupo criminoso organizando e normatizando atividades dentro de uma terra indígena caracteriza a formação de um estado paralelo, dificultando ações de fiscalização e colocando em risco povos indígenas, agentes públicos e o meio ambiente. A combinação entre crime organizado, exploração mineral e destruição ambiental é hoje um dos maiores desafios para órgãos federais e estaduais na região.







