O que começou como uma denúncia silenciosa dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está rapidamente se transformando em um escândalo com potencial de “nitroglicerina pura”, capaz de abalar o núcleo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e comprometer relações diplomáticas com o Paraguai.
A Polícia Federal investiga a atuação da Abin em uma operação de espionagem contra autoridades paraguaias, supostamente para antecipar a posição do país vizinho nas negociações bilaterais sobre a hidrelétrica de Itaipu. O caso, que já provocou indignação no governo paraguaio, aponta para uma possível arapongagem institucionalizada e ilegal, com envolvimento de altos escalões da agência e talvez ordens vindas de cima.
No centro da investigação está o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, nome de confiança do presidente Lula e ex-diretor da Polícia Federal durante seu segundo mandato. Corrêa foi convocado para depor nesta quarta-feira (17/4), e a PF pretende questioná-lo sobre a suspeita de destruição de provas, incluindo a formatação de discos rígidos de computadores usados nas operações clandestinas.
Diante da gravidade do caso, o Planalto agiu rapidamente para abafar a crise, fazendo circular que a investigação estaria “em fase final” uma tentativa evidente de reduzir a temperatura e evitar vazamentos explosivos, principalmente sobre quem teria ordenado a espionagem.
Internamente, há preocupação real no governo com o rumo das investigações. Se a PF confirmar que houve interferência política direta ou destruição intencional de provas, o caso pode ultrapassar o escândalo administrativo e atingir a esfera criminal, com consequências para a alta cúpula da Presidência.
O motivo da operação soa banal diante do tamanho do risco: descobrir a estratégia paraguaia em futuras negociações sobre Itaipu, uma pauta sensível, mas longe de justificar um movimento clandestino de espionagem transnacional. O vazamento da denúncia à PF por parte de um servidor da própria Abin indica que a operação não foi consensual nem bem recebida internamente.
No Paraguai, o caso gerou repercussão diplomática e política imediata. O governo de Santiago Peña acompanha os desdobramentos com cautela, mas já sinalizou que tratará o episódio com o devido peso no cenário internacional.
A grande questão que a investigação da PF precisa responder é quem deu a ordem. E é aí que mora o poder explosivo da apuração: se a trilha da espionagem levar até gabinetes mais altos, o escândalo deixa de ser técnico e se torna político no pior sentido possível, podendo arranhar de forma irreversível a imagem do governo Lula em ano pré-eleitoral.
Com o depoimento de Luiz Fernando Corrêa no horizonte e os discos rígidos supostamente apagados sob suspeita, o caso promete mais capítulos e nenhum deles, por enquanto, parece promissor para o Palácio do Planalto.
FONTE: HORA BRASILIA