A “Frente Ampla” que levou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de volta ao poder revelou-se menos um pacto pela democracia do que um artifício para restaurar um projeto de poder marcado por corrupção sistêmica e aparelhamento do Estado. Sob o discurso de defesa das instituições, Lula retornou ao Planalto sem ideias novas, sustentando-se em antagonismos reciclados e uma retórica desgastada que já não convence nem mesmo parte de sua base histórica.
eu terceiro mandato, previsivelmente problemático, tem sido dominado por revanchismo e populismo de ocasião. Reembalou programas antigos como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e Vale Gás — agora “Gás para Todos” — com custo previsto de R$ 2,6 bilhões em 2025, sem oferecer alternativas de emancipação social. Prometeu ainda gratuidade na conta de luz e linhas de crédito para reformas residenciais de até R$ 30 mil, mas sem apresentar fontes claras de financiamento. Enquanto isso, a equipe econômica reduziu artificialmente a contenção de gastos no Orçamento de 2025, de R$ 31,3 bilhões para R$ 10,7 bilhões, alegando aumento de receitas e leilões do pré-sal — um alívio temporário que não resolve a trajetória explosiva da dívida pública.
Na economia, a hostilidade ao setor produtivo remete ao Lula sindicalista dos anos 1980: tentativas de retomar o controle da Eletrobras, ingerência na Petrobras para barrar desinvestimentos e retomar fábricas deficitárias, exclusão dos Correios do programa de privatizações e manobras para enfraquecer a Lei das Estatais. O novo arcabouço fiscal, vendido como âncora para as contas públicas, é permissivo e legitima a expansão de despesas em detrimento do ajuste estrutural. O resultado: manutenção de uma das maiores taxas de juros reais do mundo (em torno de 10%), crédito encarecido, investimentos retraídos e dívida projetada para encostar em 100% do PIB até o fim da década.
No Congresso, Lula governa com uma base parlamentar artificial e frágil, sofrendo derrotas sucessivas, como a manutenção de vetos ao Orçamento e a resistência a pautas de interesse do Planalto. A falta de articulação é tão evidente que o governo depende de emendas bilionárias para tentar manter fidelidade mínima, o que drena recursos de políticas essenciais e alimenta o balcão político que Lula dizia combater.
No plano internacional, o Brasil coleciona constrangimentos: relativizou a agressão russa à Ucrânia, insultou Israel ao acusá-lo de genocídio e estendeu tapete vermelho para ditaduras como Venezuela, Cuba, Nicarágua e Irã. Essa política externa anacrônica já trouxe efeitos práticos: Donald Trump impôs a maior tarifa de seu governo ao Brasil — 50% sobre produtos brasileiros, com início em 1º de agosto — e abriu investigação sobre práticas comerciais do país, citando perseguição judicial a Jair Bolsonaro e seus aliados como fator de tensão diplomática.
Trata-se, em suma, de um governo que fala para dentro da própria bolha ideológica, ignora a sociedade que trabalha e empreende, e insiste em um modelo de Estado inchado e ineficiente. Sustentado pelo velho discurso de “nós contra eles”, Lula tenta reviver a polarização como escudo para esconder a falta de rumo e de resultados.