PF apura lavagem de dinheiro em bufê ligado a sindicato investigado por fraudes no INSS, segundo Estadão

Foto: Wilton Junior/Estadão

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), uma das entidades investigadas, transferiu R$ 737,9 mil para a empresa Tuttano Culinária Artesanal LTDA, que, segundo a Polícia Federal (PF), apresenta indícios de movimentações financeiras incompatíveis com sua atividade declarada. O bufê opera em um endereço no Núcleo Bandeirante, no Distrito Federal, mas, na prática, o local se encontrava fechado, com apenas um cartaz colado à porta com nome e telefone de contato

A Tuttano foi aberta em 2021, no mesmo período em que a Contag passou a registrar crescimento expressivo de arrecadação com descontos em benefícios do INSS. O relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta que a empresa, apesar de declarar faturamento anual de pouco mais de R$ 100 mil, movimentou mais de R$ 2 milhões apenas entre agosto e setembro de 2023 — um claro descompasso que levantou suspeitas de lavagem de recursos.

Durante a operação de busca e apreensão, a PF constatou ausência de atividade real no local. Investigações preliminares indicam que os valores recebidos pela Tuttano foram rapidamente pulverizados para dez outros beneficiários, entre eles um professor da rede pública e uma pessoa com renda mensal de R$ 1,7 mil, que recebeu depósitos incompatíveis com seus rendimentos.

Outro ponto que chamou a atenção dos investigadores foi que parte do dinheiro recebido pela empresa foi retransferido para a própria Contag, no valor de R$ 453 mil, reforçando a suspeita de movimentação simulada para dificultar o rastreamento dos recursos

Além da Tuttano, uma segunda empresa de nome similar, também ligada ao empresário André Guimarães, atua no mesmo endereço, usando o nome fantasia André Gourmet Buffet. Ambas operam em lojas vizinhas, sem sinais de funcionamento pleno.

A fraude no INSS, que já provocou a demissão do ministro da Previdência, Carlos Lupi, e do então presidente do instituto, Alessandro Stefanutto, agora atinge outro nível de gravidade, envolvendo suspeitas diretas de enriquecimento ilícito através da estrutura sindical.

Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), entre 2019 e 2024, a Contag arrecadou cerca de R$ 2 bilhões em mensalidades, a maior parte delas sem autorização expressa dos beneficiários — uma violação flagrante das normas previdenciárias.

A PF e o Ministério Público Federal (MPF) suspeitam que parte desses recursos foi utilizada para beneficiar dirigentes e terceiros, escondendo a origem ilícita dos valores através de empresas de fachada e transações fracionadas em contas pessoais.

Em nota oficial, a Contag negou irregularidades e afirmou que, em duas ocasiões, alertou o INSS sobre descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas. A confederação sustenta que não praticou desvios e que suas operações financeiras são legítimas.

“A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) vem a público informar que não praticou nenhuma irregularidade em relação ao processamento de descontos de mensalidades associativas nos benefícios previdenciários concedidos pelo INSS”, declarou a entidade.

A defesa do bufê Tuttano e de seus responsáveis não se manifestou, apesar dos contatos feitos pela imprensa.

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