Quando a maquiagem ultrapassa os limites da função pública

A recente decisão da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) de nomear dois maquiadores como assessores parlamentares reacendeu um debate essencial sobre os limites entre o pessoal e o institucional no uso de recursos públicos. Embora a parlamentar alegue que os profissionais desempenham tarefas administrativas e técnicas em seu gabinete, a natureza da contratação levanta questionamentos legítimos sobre a moralidade administrativa e a finalidade do cargo público.

É importante reconhecer que a diversidade de perfis nos gabinetes do Congresso representa um avanço democrático. Contudo, quando os currículos dos contratados — conhecidos nacionalmente como maquiadores — não apresentam experiência comprovada em assessoria legislativa ou técnica, abre-se um precedente perigoso para a banalização dos cargos comissionados.

A justificativa de que os profissionais foram “descobertos” como talentos administrativos por trás da maquiagem soa mais como uma tentativa de embelezar uma decisão questionável, do que de verdade valorizar novas competências. Se o trabalho deles realmente é técnico, que se apresentem relatórios, documentos, pareceres e outras evidências palpáveis. Porque, até o momento, o que se vê é uma estratégia pouco transparente e que mais fragiliza a imagem do parlamento do que contribui para seu fortalecimento.

A crítica aqui não é à estética, tampouco à identidade de gênero ou orientação sexual dos envolvidos. É ao uso de verba pública para funções que, ao que tudo indica, foram preenchidas por laços pessoais e conveniências políticas, e não por critérios técnicos.

O escárnio com o qual parte da população recebeu a notícia é reflexo de um sentimento de descrença nas instituições, potencializado por episódios como este. Quando um deputado contrata um maquiador como assessor e tenta normalizar isso como parte do “novo fazer político”, dá munição a quem defende cortes, redução de gastos públicos e até o fim de cargos comissionados no Legislativo.

Mais do que uma escolha de gabinete, essa atitude revela uma falta de respeito com o contribuinte, com os profissionais de assessoria que dedicam anos à carreira técnica, e com o próprio espírito público que deveria nortear a atuação parlamentar.

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