Enquanto Lula foca no discurso político, evitando negociar diretamente com Trump, setores produtivos enfrentam o impacto imediato das medidas
Às vésperas da entrada em vigor do tarifaço de 50% imposto por Donald Trump, o governo Lula insiste em transformar uma crise comercial sem precedentes em palanque político. Enquanto fábricas paralisam atividades, exportações são suspensas e um estudo projeta até 110 mil demissões, o presidente prefere provocar o mandatário norte-americano com “dogões soberanos” e bravatas sobre uma soberania que, na prática, não o impede de assistir passivamente ao estrangulamento de setores inteiros da economia.
Essa retórica inconsequente, travestida de coragem, esconde a falta de ação. Lula recusa-se a negociar diretamente com Trump — que já deixou claro que a tarifa também é uma reação à perseguição judicial contra Jair Bolsonaro — e transfere a tarefa a Geraldo Alckmin, que trava negociações por canais burocráticos enquanto a crise se aprofunda. No Sul, empresas madeireiras anunciaram férias coletivas e demissões; em Minas, a siderurgia paralisa; e multinacionais como a Taurus cogitam deixar o país.
Mais grave que a tarifa é a postura do governo: prefere confrontar, em nome do discurso ideológico e do ganho eleitoral, um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, ignorando o custo bilionário que recairá sobre trabalhadores, empresários e estados que já correm para socorrer suas indústrias. Se a diplomacia é substituída por deboche, o resultado será óbvio: desemprego, retração e mais isolamento internacional.
O Brasil não precisa de “piadas soberanas”. Precisa de liderança, estratégia e coragem para negociar. A omissão deliberada de Lula pode custar caro — talvez mais caro do que o país esteja disposto a pagar.