Uso de tadalafila como pré-treino preocupa médicos e pode ser fatal

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Substância indicada para disfunção erétil tem sido utilizada por jovens em academias; especialistas alertam para riscos graves à saúde

O uso de tadalafila como pré-treino tem gerado preocupação entre médicos e cardiologistas no Brasil. Inicialmente indicada para tratar disfunção erétil, a substância passou a ser utilizada de forma indevida por frequentadores de academias, especialmente jovens, com a intenção de potencializar o desempenho físico e o ganho de massa muscular.

No entanto, especialistas alertam que o uso indiscriminado e sem prescrição médica pode provocar efeitos colaterais graves, como arritmias, infarto e até morte súbita.

De acordo com o cardiologista Fábio Argenta, membro do Comitê de Ética e Qualidade Assistencial da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o uso de tadalafila como pré-treino pode causar o chamado “roubo de fluxo” coronariano — uma condição em que o fluxo sanguíneo é desviado de áreas críticas do coração.

“Essa dilatação dos vasos coronarianos normais pode comprometer áreas que mais necessitam de oxigênio, gerando risco real de morte súbita durante a prática de exercícios”, alerta o médico.

Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostram um aumento expressivo no consumo da substância. Em 2020, foram vendidas 21,4 milhões de caixas de tadalafila. Em 2023, o número saltou para 47,2 milhões. Só no primeiro semestre de 2024, 31,1 milhões de unidades já foram comercializadas.

O cenário se agrava quando a tadalafila é combinada com esteroides anabolizantes. Segundo Argenta, os riscos cardiovasculares aumentam significativamente.

“O uso de anabolizantes multiplica por nove as chances de doenças do músculo cardíaco e por três a probabilidade de infarto”, afirma o cardiologista.

Cristina Gama, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC-MT), destaca o aumento de jovens com infarto ou arritmia nos prontos-socorros.

“O sangue se torna mais viscoso, favorecendo a formação de coágulos e elevando o risco de infarto, mesmo em pessoas jovens”, explica.

Dados do Instituto Nacional de Cardiologia (INC) mostram que os casos de infarto em pessoas com até 30 anos aumentaram 10% acima da média nacional nos últimos 15 anos. As internações mensais por infarto cresceram 160% no mesmo período.

Cristina reforça que qualquer atividade física intensa deve ser precedida de uma avaliação médica detalhada.

“Exames cardíacos são fundamentais para garantir a segurança. A busca por um corpo ideal pode esconder distúrbios psicológicos e problemas de autoestima”, observa a especialista.

Para conter o uso indiscriminado, a Anvisa proibiu, no dia 14, a comercialização de todos os lotes do produto Metbala, à base de tadalafila, da empresa FB Manipulação Ltda. O medicamento, vendido como bala “gummy”, não tem registro na Anvisa, e a empresa não possui autorização para fabricar medicamentos.

Em nota oficial, a agência alertou:

“Cuidado! A automedicação coloca sua vida em risco. Esses produtos não são inofensivos. Quem faz a propaganda de produtos irregulares também comete infração sanitária e está sujeito a penalidades.”

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